3 de fevereiro de 2008

O QUE DIZEM ACERCA DE JESUS?


O QUE DIZEM ACERCA DE JESUS?
By Pierre Arraes

Jesus, sem sombra de dúvidas, é a figura mais polêmica e intrigante de toda a história. Muito já foi dito sobre o homem que não só se declarou ser o Filho de Deus, mas que asseverou sua deidade. Ainda hoje, artigos em revistas científicas, jornalísticas, religiosas, websites, documentários, livros, procuram elucidar a personalidade de Jesus. As especulações são as mais diversas, desde o fantasma que enganou a muitos (docetismo) até o amante secreto de Maria Madalena. Quando não se tem material suficiente que assegure informações insofismáveis (algo não proposto pela Bíblia), a imaginação monta o quebra-cabeça ao gosto do cliente. Acontece que uma leitura honesta das Escrituras vai nos revelar, pelo menos, o suficiente acerca do Nazareno, do Galileu, do carpinteiro. Embora a Bíblia não seja pretenciosa em exaurir informações sobre Jesus, seu material se demonstra confiável e o mais rico acerca do mesmo. As informações seculares sobre Jesus, dentro de uma visão honesta, poderiam nos realçar o mesmo perfil cristológico, segundo Edwin M. Yamauchi – Ph.D., e V. Gary Habermas (Em Defesa de Cristo, Lee Strobel, Editora Vida). Entretanto é da Bíblia que extraímos nossa crença e confiança, naquEle que é a Palavra Viva (Jo 1.1).
Não obstante às inúmeras declarações sobre Jesus, nos deparamos com outro reflexo da volição humana em criar seu próprio salvador: incontáveis obras pictóricas do Filho de Deus. Cada uma reflete o pensamento corrente, a inspiração do pintor, preconceitos latentes, sentimentos piegas, entre outras formas de se dar vida àquilo que se sente. A figura “zefireliana” inspirada nas obras medievais, traz o cerne do preconceito, Deus não pode ter traços rústicos de um judeu, cuja vida não foi nada fácil; o perfeito representante e Senhor da raça humana deve travestir-se do manto das nuanças européias. “Em 1514 alguém forjou um documento, sob o nome de Públio Lêntulo... com a seguinte descrição de Jesus: É um homem alto, de boa aparência e aspecto amistoso e venerável; a cor do cabelo não tem comparação, de cachos graciosos... repartidos no alto da cabeça, caindo para frente em cascata, à moda dos nazireus; tem a testa alta, grande e impressionante; as faces não têm mancha nem ruga, belas e coradas; o nariz e a boca são talhados com primorosa simetria; a barba, de cor igual à do cabelo, abaixo do queixo e repartida no meio como um garfo; os olhos, de um azul luminoso, claros e serenos...” (O Jesus Que Eu Nunca Conheci, Philip Yancey, Editora Vida).
Longe de sermos preconceituosos com os europeus, apenas estamos fornecendo dados lógicos de uma concepção de Jesus. Não nos compete saber como Ele era, se essa informação fosse relevante e inócua, nós a teríamos, em primeira mão, na Bíblia. Partindo do ponto de vista dos devaneios humanos, Jesus seria um ectoplasma ambulante, talvez tivesse traços tibetanos, poderia ser negro devido ao sol, ou por ter passado alguns dias no Egito, teria um terceiro olho na testa e olhos grandes, ou poderia ser confundido com um simples mulçumano se não fosse sua barba enrolada de ortodoxo judeu, talvez fosse careca e vestia-se de vermelho e branco. Vale a citação
Mas por que tanta preocupação com os estereótipos? Será que foram olhos azuis ou cabelos dourados e face incólume que tornaram Jesus o que Ele é? Nos voltemos para a Bíblia, nossa regra de fé e conduta, e deixemos que ela nos fale sobre Jesus. Não temos espaço suficiente para delinearmos acerca das profecias,como a de Dt 18.15, mas tentaremos explicar a razão de algumas declarações.
Em Mt 16.13-17, Jesus quer saber o que dizem sobre Si. A resposta é que achavam que Ele era um tipo de profeta, do quilate de Elias, que tinha o coração do tamanho do de Jeremias ou que falava como João Batista, podemos até pensar numa falsa concepção reencarnacionista. Porém tudo isso cai por terra, diante da declaração de Pedro: Ele é o Cristo. É tudo que importa! Não há uma inspiração “michelângica” ou “davinciana”, não há lençóis ou toalhas com as silhuetas, nem bustos ou estátuas gigantescas, não é isso que interessa a Jesus e aos discípulos. É isso que Jesus afirma no verso 17. A revelação é divina, e ela tem um propósito – glorificar o Pai. Ainda em Mt 17.1-8; Mc 9.2-8 e Lc 9.28-36 fala da transfiguração de Jesus, Lucas deixa claro na sua narrativa que Pedro esboça um certo delírio nas palavras, e mesmo diante de tão maravilhosa visão nenhum gesto de preservar a lembrança do fato é mencionado, nem o próprio Jesus recomenda tal atitude. Em At 1.6-11, Jesus está ascendendo aos céus, diante de um grupo considerável de pessoas, a visão é sublime e todos ficam paralisados diante de sua grandeza e saudosidade, quando anjos lhes aparecem e perguntam o por quê daquela estagnação. Não há nenhuma alusão à confecção de um quadro retratando o episódio, apenas a promessa de que aquEle que subiu vai descer de novo. Em Apocalipse João é mais ousado, porém não anti-bíblico, suas descrições não são a matéria-prima para a realização de um retrato-falado e sim a expressão de um homem que se vê pequeno demais para descrever com precisão a grandiosidade do Deus Infinito, do contrário teríamos que dizer que Jesus se transformou num monstro.
Esses aspectos não são meramente religiosos.Há uma razão pela qual Deus não quis projetar Sua imagem. Isso se inicia em Ex 20.3-5, continua com o exemplo de Dt 34.6, ecoa em II Rs 18.4 (peço que leia) – a idolatria. Quando falamos de idolatria não estamos falando apenas da confecção do ídolo ou da imagem, falamos da latréia, o culto a elas, condenado em Ex 20. Paulo deixa as coisas mais claras em I Co 10.19-20. Mas quero deixar mais claro que a idolatria não é apenas isso, ela se revela como uma fuga do homem diante do seu Criador; quando o homem cria ícones aos quais presta culto, ele está depositando nesses ícones sua vida, sonhos, sentimentos, sua vida passa a ser um reflexo do seu deus. Este é o ponto crucial. Quando projetamos a imagem divina numa representação visível e palpável, somos inconscientemente levados a crer que esta representação traz consigo vicissitudes nossas, isto está claro em Rm 1.18-32. Dessa forma, se o deus representado traz consigo debilidades de caráter e conduta, esse deus não conduzirá o homem a uma mudança de vida e sim a uma resignação e conivência para com o pecado. Eram assim as religiões de mistérios da antiguidade, os cultos greco-romanos, e as celebrações religiosas de hoje, que precedem orgias e bebedeiras. Isso é idolatria e essas são suas conseqüências.
Voltando para Jesus, as declarações que temos sobre suas características físicas são tão suficientes quanto as que deram origem ao Homem de Neanderthal, cuja aparência e família foram formuladas a partir de um dente (incrível!!!). Então o que temos de Jesus?
· Ele foi uma criança como todas as outras, Herodes teve que ordenar a morte de crianças baseando-se numa faixa etária, não em características – Mt 2.16
· Ele teve um crescimento normal do ponto de vista fisiológico – Lc 2.40,52
· Ele consegue se perder dos pais, não há nenhuma áurea sobre Ele que O distingua dos demais garotos – Lc 2.43-45
· Ele é visto como um garoto de extrema inteligência, não como um alien – Lc 2.47
· Ele foi filho de carpinteiro – Mt 13.55
· Ele teve uma genealogia como todo judeu – Mt 1.1-17; Lc 3.23-38
· Ele é visto como uma pessoa comum demais para ser tão sábio – Mt 13.54-57
· Ele foi ignorado pelos samaritanos por ser judeu – Lc 9-53
· Ele foi motejado por Seus irmãos – Jo 7.3-5
· Ele conseguia se ocultar na multidão (Ele não brilhava) – Jo 7.10,11
· Ele tem força para desvencilhar-se de seus algozes – Lc 4.29,30
Não temos outras características de Jesus a não ser aquela que Isaías retrata em seu capítulo 53.2, mas isso não é uma característica física, e sim a condição de um homem que fora espancado. O que de fato importa é que Ele foi ferido por nós, Sua morte nos trouxe vida, Sua vergonha, honra. Ele nos reconciliou com o Pai, e é através de Seu sacrifício que temos livre acesso a Deus. Aqueles que O receberam e recebem como Senhor O verão, aqueles que O desprezaram e desprezam, também O verão, uns para glória, outros para condenação. Não importa como Ele seja, toda língua confessará o Seu senhorio, para glória de Deus (Fp 2.11).

“A visão de Cristo que abrigas
É da minha visão a maior inimiga:
A tua tem um grande nariz torto como o teu,
A minha tem um nariz arrebitado como o meu...
Ambos lemos a Bíblia noite e dia,
Onde você lê preto, branco eu lia.
William Blake

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