13 de março de 2008

Eleição de Judas causa polêmica no Cariri

Crato. Com 2.681 votos, 22,77% do total, o bispo de Barra, Bahia, dom Luiz Cappio, que fez greve de fome contra a transposição do São Francisco, foi eleito o “Judas da Semana Santa”, em eleição promovida pela Fundação do Folclore Mestre Eloi. O bispo fez parte de uma lista de 10 candidatos, entre os quais, o presidente Bush, Hitler, Fernandinho Beira Mar, o Trem do Cariri e o Cartão Corporativo.

Proclamado o resultado, o boneco, representando o bispo, subirá à forca no próximo dia 22, Sábado de Aleluia, no Largo Centro Cultural do Araripe (Rffsa), sob a acusação, segundo o regulamento da Comissão Julgadora, “de haver traído o povo com maior requinte de crueldade, gozando de maior índice de antipatia”.

“Isso é ridículo”, reagiu o vigário da Sé Catedral do Crato, padre Edmilson Neves, esclarecendo que o gesto de dom Luiz Cappio não foi bem interpretado. O bispo, segundo o vigário, “chamou a atenção para a necessidade urgente de revitalização do rio e de ações que garantam o verdadeiro desenvolvimento para as populações pobres do Nordeste: uma política de convivência com o semi-árido, para todos, próximos e distantes do rio”.

Padre Edmilson antecipou que, durante as cerimônias da Semana Santa, vai falar sobre este assunto com o objetivo de esclarecer o posicionamento de um bispo que defende a sociedade, a continuidade de um amplo diálogo sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco. “Ele não pode ser considerado um traidor do povo. Ao contrário, o objetivo da greve de fome foi sinalizar para a importância da revitalização do Rio e a garantia de toda população ao acesso à água de boa qualidade como um direito humano e um bem público”.

A indicação de dom Cappio como Judas da Semana Santa surpreendeu também os movimentos jovens ligados à Igreja Católica. O presidente do grupo Missão Resgate, Geraldo Correia Braga, que congrega jovens da Pastoral da Juventude, diz que o bispo foi, sobretudo, um idealista e, como tal, deve ser respeitado. Adverte que um governo democrático “tem a responsabilidade de interpretar as aspirações da sociedade civil, em vista do bem comum, de oferecer aos cidadãos a possibilidade efetiva de participar nas decisões, de acatar e de respeitar as determinações judiciais, em clima pacífico, sem ironias”.

A festa de malhação do Judas, promovida pela Fundação do Folclore Mestre Eloi, não é a única da cidade. Está programada a malhação de cerca de 50 bonecos. A mais tradicional é o Judas da Rua dos Cariris, que é enforcado ao lado da Prefeitura. A festa tem mais de 100 anos e obedece a um ritual. Os coordenadores do evento passam a noite que antecede ao enforcamento em vigília, bebendo cachaça.
Antes do suplício, alguém lê o “testamento” do Judas, em versos, colocado especialmente no bolso do boneco. O testamento é uma sátira das pessoas e coisas locais, com humor.

Tradição
Malhar o Judas é uma prática ainda comum no Brasil, apesar do costume praticamente ter sido banido das grandes cidades por falta de locais adequados e dos perigos. No interior, porém, a tradição continua, e os bonecos de palha ou de pano são queimados no Sábado de Aleluia.


Histórico
Judas, apóstolo traidor, cognominado Iscariotes por ser oriundo de Carioth, cidade ao Sul de Judá, já um ano antes da Paixão de Jesus tinha perdido a fé no Mestre, mas continuava a acompanhá-lo por comodidade e para ir furtando do que ofereciam aos apóstolos. Obcecado pelo dinheiro, antes de se afastar de Cristo, resolveu entender-se com os sinedritas (membros do Sinédrio, conselho supremo dos judeus). Judas assistiu à última ceia, em que Jesus revelou a sua traição, mas foi logo ao encontro dos inimigos de Cristo para cumprir o que tinha combinado e receber 30 moedas. Arrependido, Judas enforcou-se.

Mais informações:Fundação do Folclore Mestre Eloi(88) 3523.7430 / (88) 2523.1333Geraldo Correia: (88) 3523.3198Padre Edmilson Neves(88) 3521.1620

(Fonte: Diário do Nordeste) - Fortaleza, Ceará Quinta-Feira 13 de Março de 2008

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