14 de março de 2008

O delírio de Dawkins

Nas primeiras páginas de Deus, um delírio, Richard Dawkins declara seu objetivo proselitista. Ele pretende persuadir os leitores religiosos a abandonarem a idéia da existência de Deus em favor de uma cosmovisão mais sensata. Aparentemente pretende também consolidar e fortalecer a confiança daqueles que já duvidam do sobrenatural, alistando-os para militarem numa campanha mundial contra a religião.

Nesta intencionalidade ideológica reside o que há de novo no discurso ateísta de Dawkins e de outros escritores que – face ao ambiente mundial em que as religiões ganham cada vez mais adeptos – agora partem para a ofensiva. Não é suficiente argumentar que a ciência não descobriu nenhum indício sobre a existência de qualquer realidade que não seja a natural. Agora é necessário afirmar que a ciência é a única ferramenta adequada para observar a realidade e que qualquer sistema metafísico ou religioso é terminantemente pernicioso e deve ser abolido da sociedade.



Vale a pena combater este ponto de vista? O jovem escritor cristão Donald Miller diz que “[m]eu mais recente esforço de fé não é do tipo intelectual. Eu realmente não faço mais isso. Mais cedo ou mais tarde você simplesmente descobre que há alguns caras que não acreditam em Deus e podem provar que ele não existe e alguns outros caras que acreditam em Deus e podem provar que ele existe – e a esse ponto a discussão já deixou há muito de ser sobre Deus e passou a ser sobre quem é mais inteligente; honestamente, não estou interessado nisso” (Como os pingüins me ajudaram a entender Deus, Thomas Nelson Brasil, 2007).



Na introdução ao presente volume, Alister e Joanna McGrath discordam da passividade deste posicionamento. A agressividade antireligiosa não apenas de Dawkins, mas também de Sam Harris, Daniel Dennett, Christopher Hitchens e demais profetas do ateísmo merece uma resposta a altura, sobretudo daqueles que estão convictos de que a ciência não é tudo nem suficiente.



Alister McGrath, autor de obra anterior questionando os postulados de Dawkins (Dawkins’ God, Blackwell, 2004), é professor de história da teologia na universidade de Oxford. Sua esposa Joanna Collicut McGrath é professora de psicologia da religião na universidade de Londres. Juntos, decidiram desafiar as conclusões de Dawkins, que consideram levianas, infundadas e irresponsáveis. Em O delírio de Dawkins, concentram-se nos principais argumentos expostos em Deus, um delírio, e procuram desconstruir cabalmente as estruturas lógicas e paradigmais que fundamentam as alegações de Richard Dawkins.



Embora a população de ateus no Brasil seja pequena e geralmente restrita às faixas demográficas mais intelectualizadas e bem abastecidas, uma das fatias populacionais que mais cresce no país é composta de pessoas que se declaram “sem-religião” (IBGE, Censo Demográfico 2000). Para elas, assim também para os religiosos, a existência ou não de Deus não é mera questão intelectual. A maneira como cada pessoa responde esta pergunta – e subseqüentemente reestrutura sua cosmovisão – afeta sua individualidade e nossas sociedades. Não há questão mais importante. Esperamos que o lançamento de O delírio de Dawkins sirva para alimentar e aprofundar o debate. —Os Editores.

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